quinta-feira, 28 de julho de 2011

FELICIDADE INSTANTÂNEA


Nenhuma fase da nossa vida é mais inocente e marcante do que a infância, onde tudo parece ter um doce sabor, ao contrário do amargor que o passar dos anos coloca no nosso paladar.
Na minha infância e pré-adolescência, as coisas eram bem mais escassas, em todos os sentidos, mas mesmo assim eu me sentia mais tranquilo e feliz que nos dias de hoje. Lembro-me que para tomar um ônibus a gente precisava somente de 50 centavos pois tudo era mais barato, até mesmo a felicidade que eu sentia.
Meus colegas e eu, todos da mesma faixa etária (11, 12 anos) e mesma classe social (pobreza total), íamos para o colégio Frei Plácido, corríamos nos corredores para pegar um bom lugar no refeitório e quem sabe comer mais de uma vez a comida que a merendeira Dona Vera e Suelí faziam com tanto carinho. Lembro como se fosse ontem, meus colegas e eu comendo as frutas quentes da Av. Barão do Triunfo após a saída da aula. Tudo era motivo para brincadeira, até mesmo selar o tênis novo do colega, já que raramente tínhamos roupa nova para colocar.
Lembro como era especial as festas de São Cosmo e Damião, festa de dia das crianças, enfim, eu e todas as crianças pobres queríamos estar nas festas, e não importava se era numa Terreira de Umbanda ou na Igreja Nossa Senhora Aparecida, pois o lugar não interferia no sabor dos doces que a gente tanto queira comer. Natal, Páscoa e aniversário eram as datas mais importantes, chegávamos a contar os dias pois a ansiedade era imensa, como se algo grandioso estivesse por acontecer.
Sei que vou parecer minha avó falando mas, naquele tempo as coisas eram mais difíceis. Eu não conhecia ninguém que tivesse computador e pouquíssimas pessoas tinham celular e quando tinham era o famoso "tijolão". Quando o assunto era amor, também era mais difícil já que não se mandava torpedo, recado pelo orkut ou msn. Restava para os mais tímidos, apelar para as cartas de amor escrita a próprio punho intencionando um encontro amoroso com abraços tímidos e beijos quase que furtivos, porém, os romances eram mais reais do que virtuais.
Lembro do quanto os adultos me cobravam mais maturidade e nos dias de hoje eu me pergunto: O que ganhei me tornando uma pessoa madura? Não tenho tempo para mais nada a não ser trabalhar. Os meus colegas da época do colégio cada um seguiu seu rumo se enclausurando na vida adulta dotada de cobranças, e assim, a verdadeira felicidade que existia nos pequenos gestos de ternura e amizade, foi se perdendo ao longo do tempo.
Ao invés dessa felicidade instantânea tínhamos uma felicidade consistente, não percebíamos que a nossa miséria também era culpa do prefeito municipal que não pagava nossos pais, funcionários públicos. Na nossa inocência de criança achávamos que as pessoas que gostávamos ficariam para sempre junto conosco, mas com o passar do tempo a vida nos ensinou da forma mais dura que estávamos errados, e assim, chegamos a vida adulta de cara e sentimentos endurecidos.
O tempo passou, as merendeiras morreram, amigos se distanciaram e quando me olho no espelho vejo que meu semblante não é mais o mesmo, o sorriso não está mais tão presente no meu rosto e a barba está precisando ser refeita.
Olhando um velho album de fotografias, me bateu aquela vontade de reviver tudo; chamar os velhos amigos e convencê-los que tudo que nos cobram na infância (seriedade, maturidade) não serve de absolutamente nada sem a leveza que tínhamos naquela época, precisamos rir mais e esquecer o que os outros vão pensar da gente, senão daqui a alguns anos não teremos nem a felicidade instantânea, teremos somente uma tristeza amadurecida que sem a gente perceber nos matará lentamente.

(RICHAR CONCEIÇÃO)