quinta-feira, 26 de abril de 2012

A MAIOR DEFICIÊNCIA



Com minhas roupas limpas e sentimentos amargos, eu me arrasto pelas ruas imundas, numa tarde cinzenta após mais um dia de trabalho.
No ponto de ônibus a rotina se repete; todo mundo com o semblante cansado ou fingindo estar de bem consigo mesmo. Da mesma forma ali estava eu, com fone nos ouvidos para não ter que conversar com ninguém e de óculos escuros para manter meu olhar distante de tudo e olhar somente para dentro do meu próprio egoísmo.
De repente, algo desvia a minha atenção, um casal de namorados toma o mesmo ônibus que eu, ambos deficiêntes visuais, mas o que me intrigava era a alegria e o romantismo invejável que eles tinham. Fiquei ali, estático, vendo o quanto se davam bem e o quanto enxergavam claramente com os olhos da alma, a beleza indescritível do amor.
Durante horas, dias e semanas minha mente ficou lembrando e relembrando com inveja daquele casal feliz e apaixonado andando vagarosamente, de braços dados pelas ruas com aquele sorriso de amor e satisfação sempre presente nos lábios. Por muito tempo eu vi, revi, pensei e repensei em quais lições poderia tirar diante de tudo que acontecia ao meu redor, afinal qual seria a fórmula da felicidade, como eram tão felizes mesmo com aquela deficiência? Questionei-me também sobre os cadeirantes, os deficientes auditivos, mentais e todas as demais pessoas que eu conhecia com algum tipo de deficiência e notei que eles viviam muito bem, era como se a felicidade deles fosse mil vezes maior que a deficiência de cada um. Por que eles são tão felizes e eu não? Decidi perguntar a cada um deles de onde vinha o sorriso sincero, a alegria de ver tudo aquilo que eu mesmo enxergando perfeitamente não conseguia ver? Cheguei perto do casal de deficientes visuais, mais uma vez na parada de ônibus, pra encontrar resposta para essa e outras perguntas, mas no fim eu não perguntei absolutamente nada, pois mais uma vez a voz do meu egoísmo falou mais alto e eu fui embora em silêncio, triste e vazio, como todos que são portadores da maior deficiência; que é viver toda uma vida sem ser verdadeiramente feliz.

                                                  (RICHAR CONCEIÇÃO)

quarta-feira, 11 de abril de 2012

TE AMO DESESPERADAMENTE!


Lá fora chove torrencialmente, aqui dentro de casa o tédio predomina, e dentro da minha cabeça tudo gira sobre o mesmo assunto; você.
Eu ligo a tv e desligo o radio, depois ligo o radio e desligo a tv, e assim eu permaneço tentando fugir dos meus próprios pensamentos, tentando conter a imensa vontade de te amar e ao mesmo tempo precisando matar esse amor.
As horas passam e eu permaneço sem sono, e então eu fico a imaginar; o que você está fazendo, como você está vestida, se está se alimentando bem, se ainda está no hospital cuidando da sua mãe que se recupera de uma enfermidade, se está em casa assistindo um jogo de volei na tv por assinatura, se está lendo algum romance espírita, ou se já está dormindo, tendo em vista que já passou da meia noite e amanhã você trabalha cedo.
Lá fora ainda chove torrencialmente, e eu releio pausadamente todas as mensagens do meu celular que enviei pra você, sempre falando de um amor intenso e verdadeiro, pois te amo desde o primeiro dia que te vi e o meu amor por você permaneceu o mesmo na intensidade porém, a alegria tornou-se tristeza por não obter o seu amor inacessível.
De repente, senti uma vontade incontrolável de te telefonar e dizer o quanto te amo desesperadamente! Mas pra quê? Pra você me dizer pela milésima vez que não sente absolutamente nada por mim? Num instante de tristeza e raiva, arranquei a bateria do meu celular e atirei pela janela pra não correr o risco te ligar. E no auge da minha melancolia eu pensava; que bom seria poder fazer o mesmo com os sentimentos, abrir meu peito, arrancar meu coração palpitante e atirá-lo pela janela pois quem sabe assim, ele pare de bater sedento e descompassado por você.

(RICHAR CONCEIÇÃO)

Bagé, 11 de abril de 2012.