segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

EU E ELA



Eu adoecia de paixão por ela, apesar de ser, apenas um aluno do 1º ano do ensino médio, que usava coturno, calça rasgada no joelho, camiseta preta de banda de rock e tinha uma alma tão sofrida para os meus 15 anos de idade. Eu agonizava de paixão por aquela garota de 14 anos da 7ª série, simpática, que usava óculos, cabelos soltos e tinha uma alma sensível que me fascinava todas as manhãs que eu a via chegar, de carona com o seu pai num carro branco que sempre estacionava na rua Preto Caxias ao lado da Praça, ou quando a gente se falava na hora do intervalo das aulas.
Deixei de matar aulas depois que passamos a frequentar a mesma escola, porém, sempre que possível, dava uma fugida da aula pra vê-la quando a porta da sua sala ficava entreaberta e ela sempre concentrada, sentada no mesmo lugar. Ninguém sabe, mas houve uma noite que eu entrei escondido no colégio e escrevi em toda a sua classe o seu nome e a frase: eu te amo. Ela ficou surpresa, mas no fundo eu acho que ela sabia que era eu que havia escrito, pois eu já não estava mais conseguindo disfarçar.
Um dia ela descobriu que eu escrevia alguns versos e ficou interessada nos meus escritos, eu comecei a escrever compulsivamente poemas que falavam sobre ela, pois eu não sabia pensar em outra coisa que não fosse o seu sorriso, a sua companhia e aos poucos essa paixão já havia saído do meu controle. Viramos bons amigos, a gente se dava muito bem e conversávamos sobre todos os assuntos; bandas de rock, serial killers, atentado terrorista, comidas favoritas e sempre que possível fazíamos piadas um do outro pra descontrair.
Éramos diferentes em tantos aspectos; eu adorava Guns n' roses, Aerosmith, já ela, era fã de Sandy e Júnior. Eu achava uma droga, mas não me importava em ouvir, pois, estava feliz demais ao lado dela pra me importar com nossas pequenas diferenças. Às vezes, eu a levava até a sua casa, apesar de morarmos em lados opostos da cidade e eu levar bronca da minha mãe que queria saber onde eu ia após a aula pra demorar tanto pra chegar em casa. Minha mãe devia achar que eu estava envolvido com drogas, mas não sabia que meu vício era aquela garota da sétima série, que morava na rua Emílio Guilain.
Naquele mesmo ano, ela me chamou pra ir até a sua casa no seu aniversário (Natal de 2001), foi um dia maravilhoso ao lado dela assistindo um programa de clipes musicais no Multishow, conheci a família dela (pai, mãe e irmão), acho que gostaram de mim, exceto o pai dela que apesar de não me falar nada passou a maior parte do tempo me observando, talvez porque já era quase meia noite ou porque percebia que eu via em sua filha: paixão, ao invés de uma simples amizade.
Apesar de todos os meus esforços, eu e ela jamais tivemos um relacionamento, ela trocou de colégio, trocou de endereço, mas antes acabou com todas as minhas expectativas de sermos um casal perfeito nas nossas imperfeições; éramos dois doidos, tagarelas e que com certeza nos daríamos bem se ela sentisse o mesmo por mim. Mas nada aconteceu, já que ela me dispensou com todas as letras, e eu, que estava no céu despenquei direto pro inferno. Naquele momento, senti como se uma artéria rompesse no meu peito e todo o meu sangue começasse a escorrer e a qualquer momento eu teria uma hemorragia interna. Fui embora arrasado, sem rumo, sentindo o coração se partir no peito enquanto minhas lágrimas molhavam a calçada e os paralelepípedos do chão da rua Emílio Guilain.

                                  (Richar Conceição)