sábado, 9 de janeiro de 2016

ESCRITO NO MEU OLHAR



Caminho democraticamente pela rua, já atrasado para o trabalho, quando repentinamente vem em minha direção, distraída, aquela que mexe com meus sentimentos e que me cativa sem precisar dizer uma só palavra. Disfarcei olhando as vitrines da loja e o filme que estava em cartaz no cinema para que ela não notasse que meu coração estava palpitando mais rápido por causa da sua presença que se avizinhava. Virei-me na sua direção com um sorriso amarelo, coração palpitante, contendo a respiração um pouco ofegante e tentei puxar qualquer assunto só para vê-la de perto por alguns instantes.
Beijei a sua face cautelosamente, dei um abraço amigável e não muito demorado pra que ela não notasse que eu estava perplexo ao vê-la naquele instante em que eu estava desprevenido. Digo desprevenido, pois sempre que a vejo tento ser o mais superficial possível, invento alguma desculpa ou falo algo mirabolante pra ela não perceber o meu notável nervosismo, finjo que está tudo ótimo e que não fico pensando nela depois de nos falarmos casualmente na rua.
O calor do sol me incomodava um pouco e eu a convidei pra dar mais um passo pra sua direita e ficar na sombra, ela optou por ficar no sol e eu não discordei da sua escolha, pois o sol iluminava o seu rosto e dava um contraste todo especial no seu cabelo, que de vez em quando, alguns fiozinhos mexiam-se com a brisa que levemente acariciava o seu rosto.
Deixei escapar na minha fala trêmula que estive pensando nela, durante essa semana, e ela brincou dizendo que no mínimo eu estava a maldizendo de todas as formas cabíveis. Eu afirmei pra ela que dessa vez, não. Dessa vez eu falava bem dela nos meus diálogos imaginários comigo mesmo e que enviaria por email tudo que escrevi pensando nela, nas minhas madrugadas de insônia.
Pedi que ela escrevesse o seu email no meu caderno de anotações com a desculpa de que a letra dela era mais legível que a minha, mas esse foi apenas um pretexto pra guardar comigo a sua letra, já que tudo que vem dela é importante pra minha saúde emocional. Pra minha surpresa e indignação comigo mesmo, tropecei nas palavras e acabei não dizendo coisa com coisa, logo eu, que nunca tive problemas em me expressar gaguejei na hora de me despedir, e pra minha dupla infelicidade tentei repetir o que tinha dito e adivinha; gaguejei novamente e não consegui dizer absolutamente nada. Ela riu da minha rara timidez. Com receio de gaguejar pela terceira vez numa única frase, optei por dar um sorriso sem graça, acenar com a mão direita e ir embora sem dizer uma só palavra, já que a frase: "eu te amo" não quis sair da minha boca, se bem que nem precisava dizer, estava escrito no meu olhar desde o primeiro dia que eu a vi.

                                                                                
                                                                                  (RICHAR CONCEIÇÃO)