domingo, 29 de março de 2015

QUARTO 45B




Barulho de foguetes na janela, um clarão incessante de fogos de artifício. Eu ignoro tudo isso. Olho novamente para o relógio, saio várias vezes do quarto 45 B, onde ela está internada, para esconder o meu desespero disfarçado de ansiedade. Caminho pelos corredores desse hospital, nessa madrugada interminável e espio os demais doentes pelas portas entreabertas dos quartos. Fumaria uma carteira de cigarro, se fosse fumante, comeria um prato de comida se essa angústia deixasse eu me alimentar, mas tudo isso é inútil, pois a minha dor nunca passa e aos poucos vou me sentindo cada vez mais fraco.
          Ando mais um pouco,  vou até o pátio, faço minha prece e choro escondido pra tentar aliviar um pouco a minha tristeza. Lavo o meu rosto numa torneira que encontrei próximo a imagem de uma santa, cujo nome desconheço, e subo novamente as rampas, os corredores e entro no quarto em que ela dorme profundamente. Dou um beijo na sua face direita, confiro o soro, o dreno e depois sento ao lado da sua cama e acaricio suavemente os seus cabelos, e de relance, me vem a cabeça o motivo dos fogos de artifício; hoje é Natal! Então, ao lado da cama, eu acaricio os cabelos dela e sussurro baixinho; “- Que ironia, meu amor! Eu disse que a gente passaria o Natal juntos, mas não achei que seria dessa forma tão hostil.”
          Permaneço acariciando o cabelo dela, relembrando os nossos dias felizes e torcendo pra que ela saia logo desse hospital, pra que eu possa novamente ter motivos pra sorrir, pra que eu possa andar novamente pela rua, com minha mão entrelaçada nas mãos dela. Quero que ela saia logo desse hospital, mesmo que ela reclame do meu mal comportamento, reclame que precisa comprar uma blusa nova, para irmos naquele baile de formatura, no final do mês que vem. Preciso dela, mesmo sabendo que ela vai reclamar que eu preciso ir ao médico tratar minha úlcera, enfim... preciso que ela melhore logo pra me fazer sorrir, pra cuidar do meu coração amargurado, pra curar o meu azedume matinal, mas acima de tudo, preciso dela pra me tomar nos braços e dizer que ainda me ama pois só assim eu terei saúde pra continuar os meus dias que ficaram tão amargos sem ela.

          (Richar Conceição)